Atualmente, estou revisitando "LOST" depois de seus dez anos de lançamento. Foi uma das coisas mais interessantes que fizeram num seriado neste período. Mistério, drama, ação e humor num só seriado. Assisti assíduo até a terceira temporada. Me revoltei e desisti, dei outra chance e assisti até o fim. Percebi que a quinta temporada era praticamente desnecessária e a quarta poderia ser resumida em 3 episódios, coincide com a greve dos escritores da série. Mas fiz questão de adquirir todos os DVDs. Não me arrependi. Às vezes, nos meus feriadões, ligo e revejo tudo de novo. Sabendo o final, começo a pensar numa teoria nova ou num detalhe que não vi antes. Todos se preocupam com o final, mas creio que o final desmerece o conjunto da obra. O método "Rashomon" de Kurosawa de contar a mesma estória na visão de outro personagem, foi o que mais deu vida ao não-óbvio da série.
Dos seriados que assisti, Lost é o que menos vi "erros" de generalizações e preconceitos com um multiculturalidade e multi-etnia tão grande. Os anglófilos estão aos montes: americanos, ingleses, australianos e até nigerianos na Ilha. Temos afro-americanos, como Michael e Walt, latinos com Hugo, Ana Lucia, nosso Paulo e o assustador Richard. O casal coreano aparece já que era um dos países "da moda", e está voltando à moda de novo. O Sayid aparece oportunamente depois da situação no Iraque, colocá-lo entre os mocinhos - mesmo sendo talvez o mais perigoso de todos - é uma boa oportunidade pra afastar o anti-islamismo que assombrava os USA.
Triangulo das Bermudas? Ou prevendo o voo da Malasia? |
ESTADO DE NATUREZA
Os nomes que são usados para nosso ex-paralítico e nossa mãe louca é parte do plano de civilização em Lost. A Lei da força é decisiva na natureza, então a busca por armas que define os destinos. A teoria de Rousseau e Locke estão claras quando Saywer "pega os itens" dos demais passageiros como seus: Quando os demais acreditam, está definida a propriedade privada.
O que me assusta é presença de lonas, tantos remédios e um machado no avião... :P
A formação dos habitantes da ilha, lembra a teoria da civilização superior de Nietzsche: quando uma cultura mais bárbara - Roma, ou Acadia - se apropria de uma cultura mais dócil e intelectual - Grécia ou Suméria - que se cria uma civilização grandiosa, assim os Hostis tomaram o lugar da Dharma. Os nomes Locke - o que acredita na experiência ou empirismo - e Rousseau - o louco que acredita na felicidade do selvagem - nos faz pensar em...
Locke que quer dizer "fechar", mas está sempre abrindo caixas. |
JOGO DE NOMES
Os irmãos Ethan e Nathan, em hebraico nomes respectivos como dádiva e presente divino. Saywer, o "menino travesso". Jane Austen empresta seu sobrenome à Kate com sua revolução dos costumes.
Jack, James e Jacob são variantes do mesmo nome, Yakov. Benjamim também é o mesmo caso do último filho de Jacó.
O mais interessante é o jogo do nome Jean-Jacques Rousseau em inglês: John, Jack e Rousseau.
Preto e Branco, Loiro e Moreno, entre outras dualidades. |
BRANCO-E-PRETO
Tudo começa com Locke jogando um Gamão com Walt. Você verá os símbolos do I Ching e Yin-Yang, a rivalidade entre loiros e morenos - Jack e Sawyer, Jacob e Esau -
A referencia constante à Star Wars - a Força e o lado negro da Força - é revista aqui, mas os personagens, sim tem os dois lados dentro de si.
Números chineses, cabalísticos ou da Física Quântica? |
SIMBOLOGIA BÍBLICA
Claire dar a luz nos joelhos de Kate lembra o Genesis, como um rito de adoção das esposas de Jacó.
O complexo de Édipo que é patente na Bìblia aparece aqui, a rivalidade entre irmãos, a sina dos pais pesando sobre seus filhos e por aí vai. Quase todos os protagonistas tem fortes ódios ou ressentimentos pelos pais. Jack com o dever frustrado de enterrar o pai, Kate uma parricida. Sayid matou - uma galinha! - pela primeira vez por causa de seu pai.
Os dois irmãos da ilha estão aí, Jacob e - Esaú? - o homem sem nome.
As duas primeiras temporadas nos fazem acreditar que ninguém saía da Ilha, pegava um barco, alguém os empurrava de volta. E sim, parece um imã. Eloise mostra um pêndulo pra achar a ilha. Muitos místicos ligados em física falam de lugares com magnetismos especiais como Stonehenge e Machu Pichu.
TODO MUNDO PROFETIZA
O que dá nó no expectador é que sempre ACREDITAMOS nas falas, um personagem está errado ou muda de ideia, mas até lá estamos com a minhoca na cabeça porque... tudo o que se fala principalmente nas primeiras temporadas é uma verdade sem saber ou acontece. Assim, Hurley prometeu que pagaria milhares de dolares, ou James escreve uma carta e ao roubar o nome Saywer se torna igual ao seu destinatário. Walt era o pior, desejava as coisas e acontecia. Lia um gibi com um urso polar e apareceu um numa ilha tropical. Frustrante foi quando descobrimos o porquê apareceu...
TUDO SE ENCAIXA
Um truque muito bem usado no teatro é peripécia, imagina que foi mencionado um lugar chamado Rocha Negra, e só depois sabemos que é um navio dentro da floresta, e descobrimos que o navio é importante no começo de tudo?
COELHO DA ALICE
A ilha tem uma coisa de arrumar fantasmas, quando foi o pai de Jack fiquei empolgado, quando era o Walt já dei bocejos. Alucinação ou fantasma?
MISTÉRIOS
- Boone foi o primeiro ator a ser escolhido e Jack certo de morrer no episódio piloto, segundo o Blog oficial da Disney, mas mudaram os planos um morreu logo, outro virou o personagem central.
- Os co-criadores juram que os personagens não estavam mortos desde o início, aliás uma das primeiras teorias especuladas na primeira temporada.
- Por que ninguém tinha celular?!!
- Depois de tanto mistério, por que se perguntar da qualidade das roupas, ter um machado no bagageiro do avião e as armas terem balas infinitas?
Se você não viu, ou torceu o nariz recomendo assistir de novo. Lost, mesmo com greve de roteiristas por motivos comerciais e tudo, ainda tem muito o que oferecer.
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