terça-feira, 8 de julho de 2014

Revisitando Lost


Atualmente, estou revisitando "LOST" depois de seus dez anos de lançamento. Foi uma das coisas mais interessantes que fizeram num seriado neste período. Mistério, drama, ação e humor num só seriado. Assisti assíduo até a terceira temporada. Me revoltei e desisti, dei outra chance e assisti até o fim. Percebi que a quinta temporada era praticamente desnecessária e a quarta poderia ser resumida em 3 episódios, coincide com a greve dos escritores da série. Mas fiz questão de adquirir todos os DVDs. Não me arrependi. Às vezes, nos meus feriadões, ligo e revejo tudo de novo. Sabendo o final, começo a pensar numa teoria nova ou num detalhe que não vi antes. Todos se preocupam com o final, mas creio que o final desmerece o conjunto da obra.  O método "Rashomon" de Kurosawa de contar a mesma estória na visão de outro personagem, foi o que mais deu vida ao não-óbvio da série.
Eis os itens que pincei nela:



MULTICULTURALIDADE
Dos seriados que assisti, Lost é o que menos vi "erros" de generalizações e preconceitos com um multiculturalidade e multi-etnia tão grande. Os anglófilos estão aos montes: americanos, ingleses, australianos e até nigerianos na Ilha. Temos afro-americanos, como Michael e Walt, latinos com Hugo, Ana Lucia, nosso Paulo e o assustador Richard. O casal coreano aparece já que era um dos países "da moda", e está voltando à moda de novo. O Sayid aparece oportunamente depois da situação no Iraque, colocá-lo entre os mocinhos - mesmo sendo talvez o mais perigoso de todos - é uma boa oportunidade pra afastar o anti-islamismo que assombrava os USA.

Triangulo das Bermudas? Ou prevendo o voo da Malasia?


ESTADO DE NATUREZA
Os nomes que são usados para nosso ex-paralítico e nossa mãe louca é parte do plano de civilização em Lost. A Lei da força é decisiva na natureza, então a busca por armas que define os destinos. A teoria de Rousseau e Locke estão claras quando Saywer "pega os itens" dos demais passageiros como seus: Quando os demais acreditam, está definida a propriedade privada.

O que me assusta é presença de lonas, tantos remédios e um machado no avião... :P

A formação dos habitantes da ilha, lembra a teoria da civilização superior de Nietzsche: quando uma cultura mais bárbara - Roma, ou Acadia - se apropria de uma cultura mais dócil e intelectual - Grécia ou Suméria - que se cria uma civilização grandiosa, assim os Hostis tomaram o lugar da Dharma. Os nomes Locke - o que acredita na experiência ou empirismo - e Rousseau - o louco que acredita na felicidade do selvagem - nos faz pensar em...

Locke que quer dizer "fechar", mas está sempre abrindo caixas.

JOGO DE NOMES
Os irmãos Ethan e Nathan, em hebraico nomes respectivos como dádiva e presente divino. Saywer, o "menino travesso". Jane Austen empresta seu sobrenome à Kate com sua revolução dos costumes.
Jack, James e Jacob são variantes do mesmo nome, Yakov. Benjamim também é o mesmo caso do último filho de Jacó.
O mais interessante é o jogo do nome Jean-Jacques Rousseau em inglês: John, Jack e Rousseau.

Preto e Branco, Loiro e Moreno, entre outras dualidades.


BRANCO-E-PRETO
Tudo começa com Locke jogando um Gamão com Walt. Você verá os símbolos do I Ching e Yin-Yang, a rivalidade entre loiros e morenos - Jack e Sawyer, Jacob e Esau -
A referencia constante à Star Wars - a Força e o lado negro da Força - é revista aqui, mas os personagens, sim tem os dois lados dentro de si.

Números chineses, cabalísticos ou da Física Quântica?

SIMBOLOGIA BÍBLICA
Claire dar a luz nos joelhos de Kate lembra o Genesis, como um rito de adoção das esposas de Jacó.
O complexo de Édipo que é patente na Bìblia aparece aqui, a rivalidade entre irmãos, a sina dos pais pesando sobre seus filhos e por aí vai. Quase todos os protagonistas tem fortes ódios ou ressentimentos pelos pais. Jack com o dever frustrado de enterrar o pai, Kate uma parricida. Sayid matou - uma galinha! - pela primeira vez por causa de seu pai. 
Os dois irmãos da ilha estão aí, Jacob e - Esaú? - o homem sem nome. 

TEORIA DO IMÃ
As duas primeiras temporadas nos fazem acreditar que ninguém saía da Ilha, pegava um barco, alguém os empurrava de volta. E sim, parece um imã. Eloise mostra um pêndulo pra achar a ilha. Muitos místicos ligados em física falam de lugares com magnetismos especiais como Stonehenge e Machu Pichu.


TODO MUNDO PROFETIZA
O que dá nó no expectador é que sempre ACREDITAMOS  nas falas, um personagem está errado ou muda de ideia, mas até lá estamos com a minhoca na cabeça porque... tudo o que se fala principalmente nas primeiras temporadas é uma verdade sem saber ou acontece. Assim, Hurley prometeu que pagaria milhares de dolares, ou James escreve uma carta e ao roubar o nome Saywer se torna igual ao seu destinatário. Walt era o pior, desejava as coisas e acontecia. Lia um gibi com um urso polar e apareceu um numa ilha tropical. Frustrante foi quando descobrimos o porquê apareceu...


TUDO SE ENCAIXA
Um truque muito bem usado no teatro é peripécia, imagina que foi mencionado um lugar chamado Rocha Negra, e só depois sabemos que é um navio dentro da floresta, e descobrimos que o navio é importante no começo de tudo?

COELHO DA ALICE
A ilha tem uma coisa de arrumar fantasmas, quando foi o pai de Jack fiquei empolgado, quando era o Walt já dei bocejos. Alucinação ou fantasma?

MISTÉRIOS
- Boone foi o primeiro ator a ser escolhido e Jack certo de morrer no episódio piloto, segundo o Blog oficial da Disney, mas mudaram os planos um morreu logo, outro virou o personagem central.
- Os co-criadores juram que os personagens não estavam mortos desde o início, aliás uma das primeiras teorias especuladas na primeira temporada.
- Por que ninguém tinha celular?!!
- Depois de tanto mistério, por que se perguntar da qualidade das roupas, ter um machado no bagageiro do avião e as armas terem balas infinitas?

Se você não viu, ou torceu o nariz recomendo assistir de novo. Lost, mesmo com greve de roteiristas por motivos comerciais e tudo, ainda tem muito o que oferecer.

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