quarta-feira, 20 de maio de 2015

Os Desenhos Brasileiros


Um dos prazeres de infância que acompanharam os adultos desta geração são os desenhos animados. Não são mais vistos como exclusivos pra crianças. E eu lembro bem que em duas décadas atrás, nós ambicionávamos ter desenhos brasileiros. 

Dependíamos quase exclusivamente dos norte-americanos. Raramente alguns clássicos franceses apareceram na TV brasileira, e progressivamente, a criatividade americana caiu, tanto no traço (apostando no estilo a pretexto mais infantil) quanto em enredo. Na década de 1990, os japoneses de uma entrada tímida estouraram no país, mas mesmo admiradores (como eu!) tem que confessar que cada vez mais caminham para a repetição. Pixar e a lendária Disney vivem do cinema animado, mas decaem bastante quando transformam o trabalho em série. 

Hoje, com o fim da propaganda infantil, desapareceu também boa parte dos desenhos animados da TV aberta, tendo como única exceção a TV Cultura. Mas curiosamente é graças às leis de incentivo à programações nacionais na TV fechada, a Ancine e alguns "estágios" de profissionais no exterior (que geraram "Era do Gelo" ou "Cassiopeia") que surgiram uma certa diversidade. 

A Turma da Mônica é o carro chefe desta produção pois é a mais antiga. Basta ver as primeiras produções isoladas (em especiais lendários em VHS ainda no período militar) e comparar com as últimas feitas. A MSP ainda não tinha cacife pra fazer desenhos regulares, apenas "filmes" curtos. As séries se baseiam em diversos episódios já conhecidos dos leitores dos gibis com uns toques modernos. Os cenários continuam simplórios, mas são apresentados até em 3D. Esta produção que é apresentada (obviamente) na Rede Globo é acompanhada pelo Sítio do Picapau Amarelo, versão bem simplificada da obra de Monteiro Lobato, talvez num ritmo mais veloz que o próprio autor pensou...  


Mas e as produções feitas do zero? Aí entra a TV Cultura que investiu na exibição de alguns deles. Um dos primeiros foi Nilba e os Desastronautas. Um desenho de plágios bem original. Conta as desventuras de um garoto que convence uma tripulação espacial a viajar pelo espaço e vão parar na Lua Ervilha. A canção tema já anuncia: "a pior tripulação numa sucata espacial", isto é, como diz a gíria, "bem BR" mesmo. Lembra a temática do "Perdidos no Espaço", e fazem paródias divertidas com Star Trek, Chapolim, Avatar e até Caverna do Dragão. O desenho da 44Toons é muito bom, e exibido até nos Estados Unidos.  


Uma produção bem diferente é Zica e os Camaleões. À primeira vista, mais parecia um dos desenhos da MTV.  Conta a vida cheia de dilemas da adolescente conhecida como Zica. Interessante que a turma roqueira de Zica é desenhada em preto e branco, enquanto os demais, inclusive sua família, são excessivamente coloridos. Rebelde, sim, mas diferente dos da MTV, rebelde com causa. Ela questiona de forma inteligente o mundo, não faz o papel de filha revoltada. O pai não tem tempo, a mãe só pensa em lojas e o irmão segue modinhas. No fim, ela se confidencia com seus camaleões de estimação (sempre camuflados!) e no fim, uma canção da personagem, até em forma de carne e osso mesmo. É um desenho legal, mas poderia ser mais longo.


Outra pérola é um com um título enorme e estranho: Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma, dublado por ninguém menos que a dupla Marcius Melheim e Leandro Hassum. Melheim encarna Osmar e Hassum seu melhor amigo Steve, num mundo em que todos os personagens são pães, queijos e massas, o personagem principal é um pão de forma... a primeira fatia cascuda dele. Por isso é o indesejado e tratado como fracassado.  O roteiro é simples, ele é azarado, sem dinheiro (e perde dinheiro!) e a bisnaga que ele gosta, nunca lembra seu nome. Lembra os velhos desenhos de Hanna-Barbera, mas para a dupla, o humor não é tão intenso quanto poderiam. 



Já sem nomes conhecidos, mas vozes conhecidas, há também o Historietas Assombradas - Pra crianças malcriadas. Tem o traçado atual dos desenhos malfeitos norte-americanos. O roteiro tão sem sentido como alguns da Nickelodeon. As bizarras aventuras de um garoto arteiro chamado Pepe, cuja avó é uma feiticeira e seus amigos mais bizarros que ele, exceto a doce Marilu (a única com a cabeça no lugar). Surgem os monstros mais bizarros, (apresentados com cenas de Card Game, com pontos e estatísticas!). Você reconhecerá as vozes dos dubladores de Wolverine e Nicole Kidman nestas aventuras em que pintaram o Pé-Grande, o Lobisomem e até a Loira do Banheiro. É tosco de traço, mas dá umas boas risadas. 
_____________________________________
 Ainda tem alguns outros, mas é bom saber que o brasileiro enfim conquistou outras mídias e sabe ser criativo.